1. A Escritura Sagrada é a única suficiente, correta e infalível regra de todo conhecimento, fé e obediência salvíficos;1 embora a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus a ponto de deixar os homens indesculpáveis; ainda assim, elas não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, que é necessário para a salvação.2 Portanto, agradou ao Senhor, em diversos momentos e de várias maneiras, revelar-se e declarar sua vontade à sua igreja;3 e posteriormente, para melhor preservação e propagação da verdade, bem como para um mais seguro estabelecimento e consolo da igreja contra a corrupção da carne e a malícia de Satanás e do mundo, concedeu a mesma completamente por escrito; o que faz as Escrituras Sagradas serem as mais necessárias, visto que aqueles meios anteriores de Deus revelar sua vontade ao seu povo agora cessaram.4
2Timóteo 3:15-17; Isaías 8:20; Lucas 16:29,31; Efésios 2:20
Romanos 1:19-21,2:14-15; Salmos 19:1-3
Hebreus 1:1
Provérbios 22:19-21; Romanos 15:4; 2Pedro 1:19-20
2. Sob o nome de Escritura Sagrada ou a Palavra de Deus escrita; incluem-se agora todos os livros do Antigo e do Novo Testamento, que são estes:
DO ANTIGO TESTAMENTO:
Gênesis - Êxodo - Levítico - Números - Deuteronômio - Josué - Juízes - Rute - 1Samuel - 2Samuel - 1Reis - 2Reis - 1Crônicas - 2Crônicas - Esdras - Neemias - Ester - Jó - Salmos - Provérbios - Eclesiastes - Cant. de Salomão - Isaías - Jeremias - Lamentações - Ezequiel - Daniel - Oséias - Joel - Amós - Obadias - Jonas - Miquéias - Naum - Habacuque - Sofonias - Ageu - Zacarias - Malaquias
DO NOVO TESTAMENTO:
Mateus - Marcos - Lucas - João - Atos dos Apóstolos - Romanos - 1Coríntios - 2Coríntios - Gálatas - Efésios - Filipenses - Colossenses - 1Tessalonicenses - 2Tessalonicenses - 1Timóteo - 2Timóteo - Tito - Filemom - Hebreus - Tiago - 1Pedro - 2Pedro - 1João - 2João - 3João - Judas - Apocalipse
Todos os quais são dados pela inspiração de Deus para serem a regra de fé e vida.
5
2Timóteo 3:16
3. Os livros comumente chamados apócrifos não são de inspiração divina e não fazem parte do cânon ou regra da Escritura e, portanto, não são de autoridade para a igreja de Deus nem de modo algum podem ser aprovados ou usados, senão como escritos humanos.6
Lucas 24:27,44; Romanos 3:2
4. A autoridade da Sagrada Escritura, razão pela qual deve ser crida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende completamente de Deus (que é a própria verdade), o seu autor; portanto, ela deve ser recebida porque é a Palavra de Deus.7
5. Nós podemos ser movidos e induzidos pelo testemunho da igreja de Deus a uma alta e reverente estima pelas Sagradas Escrituras; e o caráter celestial do seu assunto, a eficácia da sua doutrina, a majestade do estilo, a concordância de todas as partes, o escopo do seu todo (que é dar toda a glória a Deus), a plena revelação que faz do único caminho da salvação do homem bem como por suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa perfeição, todos esses são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de Deus; não obstante, a nossa plena persuasão e certeza de sua verdade infalível e autoridade divina provém da operação interna do Espírito Santo que testemunha por meio da Palavra e com a Palavra em nossos corações.8
João 16:13-14; 1Coríntios 2:10-12; 1João 2:20,27
6. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a sua própria glória bem como para salvação, fé e vida do homem ou é expressamente declarado ou necessariamente contido na Sagrada Escritura, ao que nada, em qualquer tempo, deve ser acrescentado, seja por novas revelações do Espírito ou por tradições de homens.9 No entanto, nós reconhecemos a necessidade da iluminação interior do Espírito de Deus para a compreensão salvífica das coisas reveladas na Palavra;10 também reconhecemos que há algumas circunstâncias concernentes ao culto a Deus e ao governo da igreja comuns às ações e sociedades humanas que devem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, as quais devem sempre ser observadas.11
2Timóteo 3:15-17; Gálatas 1:8-9
João 6:45; 1Coríntios 2:9-12
1Coríntios 11:13-14; 1Coríntios 14:26,40
7. Nem todas as coisas em si mesmas são igualmente claras na Escritura, nem igualmente claras a todos;12 ainda assim, aquelas coisas que necessitam ser conhecidas, cridas e observadas para a salvação são tão claramente propostas e desveladas em algum ou outro lugar da Escritura que não apenas os doutos, mas também os indoutos, ao fazer uso adequado dos meios ordinários, podem alcançar uma compreensão suficiente delas.13
2Pedro 3:16
Salmos 19:7; Salmos 119:130
8. O Antigo Testamento em hebraico (que era a língua nativa do povo de Deus no passado)14 e o Novo Testamento em grego (que, na época em que foi escrito, era mais comumente conhecido entre as nações), são imediatamente inspirados por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, portanto, eles são autênticos e a igreja deve apelar para eles quando houver quaisquer controvérsias sobre a religião.15 Mas, porque essas línguas originais não são conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e é ordenado, no temor de Deus, a lê-las16 e a examiná-las,17 elas devem ser traduzidas para a língua comum de cada povo aonde chegar18 para que, a Palavra de Deus habite abundantemente em todos e eles possam adorá-lo de uma maneira aceitável e, pela paciência e consolação das Escrituras, possam ter esperança.19
Romanos 3:2
Isaías 8:20
Atos 15:15
João 5:39
1Coríntios 14:6,9,11,12,24,28
Colossenses 3:16
9. A regra infalível de interpretação da Escritura é a própria Escritura; e, portanto, quando houver uma questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer Escritura (que não é múltiplo, mas único), esse pode ser investigado por meio de outros textos que o expressem mais claramente.20
2Pedro 1:20-21; Atos 15:15-16
10. O juiz supremo, pelo qual todas as controvérsias da religião devem ser determinadas, e todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos, doutrinas de homens e espíritos particulares devem ser examinados, e em cuja sentença devemos nos firmar, não pode ser outro senão as Sagradas Escrituras anunciadas pelo Espírito; então, de acordo com o que a Escritura anuncia, nossa fé é finalmente decidida.21
Mateus 22:29,31,32; Efésios 2:20; Atos 28:23
Capítulo II
Sobre Deus e a Santíssima Trindade
1. O Senhor nosso Deus é somente um Deus vivo e verdadeiro;1 cuja subsistência é em e de si mesmo,2 infinito em seu ser e perfeição; cuja essência não pode ser compreendida por qualquer outro, senão por ele mesmo;3 um espírito puríssimo,4 invisível, sem corpo, partes ou paixões, a quem somente pertence a imortalidade, que habita na luz que nenhum homem pode acessar;5 é imutável,6 imenso,7 eterno,8 incompreensível, onipotente,9 em tudo infinito, santíssimo, sapientíssimo,10 completamente livre e absoluto, operando todas as coisas segundo o conselho da sua vontade imutável e justíssima,11 para a sua própria glória.12 É amorosíssimo, gracioso, misericordioso, longânimo, abundante em bondade e verdade, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado; o galardoador dos que diligentemente o buscam13 e, contudo, justíssimo e terrível em seus julgamentos;14 odiando todo pecado;15 e quem de modo algum terá o culpado por inocente.16
1Coríntios 8:4,6; Deuteronômio 6:4
Jeremias 10:10; Isaías 48:12
Êxodo 3:14
João 4:24
1Timóteo 1:17; Deuteronômio 4:15-16
Malaquias 3:6
1Reis 8:27; Jeremias 23:23
Salmos 90:2
Gênesis 17:1
Isaías 6:3
Salmos 115:3; Isaías 46:10
Provérbios 16:4; Romanos 11:36
Êxodo 34:6-7; Hebreus 11:6
Neemias 9:32-33
Salmos 5:5-6
Êxodo 34:7; Naum 1:2-3
2. Deus possui toda a vida,17 glória,18 bondade19 e bem-aventurança, em e de si mesmo; ele é todo suficiente para si e não possui necessidade de quaisquer criaturas que ele fez nem delas deriva glória alguma,20 mas apenas manifesta sua própria glória em, por, para e sobre elas; ele é a única origem de todo ser, de quem, por quem e para quem são todas as coisas;21 e ele exerce soberano domínio sobre todas as criaturas, para fazer por elas, para elas ou sobre elas tudo que lhe apraz.22 Todas as coisas estão manifestas e patentes diante dele;23 seu conhecimento é infinito, infalível e independente de criatura; assim como nada para ele é contingente ou incerto.24 Ele é santíssimo em todos os seus conselhos, em todas as suas obras25 e em todos os seus comandos. A ele, é devido da parte de anjos e homens toda adoração,26 serviço ou obediência que, como criaturas, eles devem em relação ao seu Criador, e tudo quanto mais ele se agrada em requerer deles.
João 5:26
Salmos 148:13
Salmos 119:68
Jó 22:2-3
Romanos 11:34-36
Daniel 4:25,34,35
Hebreus 4:13
Ezequiel 11:5; Atos 15:18
Salmos 145:17
Apocalipse 5:12-14
3. Em seu ser divino e infinito há três subsistências, o Pai, a Palavra ou o Filho, e o Espírito Santo,27 de uma só substância, poder e eternidade, cada um possuindo completa essência divina e, ainda assim, a essência é indivisível.28 O Pai de ninguém é gerado nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai;29 o Espírito Santo é procedente do Pai e do Filho;30 todos infinitos, sem princípio de existência. Portanto, um só Deus, que não deve ser dividido em seu ser ou natureza, mas sim distinguido pelas diversas propriedades peculiares e relativas, e relações pessoais; essa doutrina da Trindade é o fundamento de toda a nossa comunhão com Deus e confortável dependência dele.
João 5:7; Mateus 28:19; 2Coríntios 13:14
Êxodo 3:14; João 14:11; 1Coríntios 8:6
João 1:14,18
João 15:26; Gálatas 4:6
Capítulo III
Sobre os Decretos de Deus
1. Deus decretou em si mesmo, desde toda a eternidade, pelo mui sábio e santo conselho de sua própria vontade, livre e imutavelmente, todas as coisas, seja o que for que venha a acontecer;1 ainda assim, de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem tem comunhão com algo nisso;2 nem é violentada a vontade da criatura, nem ainda é eliminada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas;3 nisso demonstra-se a sua sabedoria em dispor de todas as coisas, e poder e fidelidade em efetuar o seu decreto.4
Isaías 46:10; Efésios 1:11; Hebreus 6:17; Romanos 9:15,18
Tiago 1:13; I João 1:5
Atos 4:27-28; João 19:11
Números 23:19; Efésios 1:3-5
2. Embora Deus conheça tudo o que possa ou venha a ocorrer, sobre todas as circunstâncias imagináveis;5 ainda assim, ele não decretou qualquer coisa porque ele a previu como futura ou como aquilo que poderia ocorrer em tais condições.6
Atos 15:18
Romanos 9:11, 13, 16, 18
3. Por meio do decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e anjos são predestinados ou preordenados para a vida eterna por meio de Jesus Cristo,7 para o louvor de sua gloriosa graça;8 outros são deixados a agir em seus pecados para a sua justa condenação, para o louvor da sua gloriosa justiça.9
1Timóteo 5:21; Mateus 25:34
Efésios 1:5-6
Romanos 9:22-23; Judas 4
4. Esses anjos e homens, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; e o seu número é tão certo e definido, que não pode ser aumentado ou diminuído.10
2Timóteo 2:19; João 13:18
5. Aqueles da humanidade que são predestinados para a vida, Deus, antes da fundação do mundo, de acordo com o seu propósito eterno e imutável e o secreto conselho e beneplácito de sua vontade, os escolheu em Cristo para a glória eterna, por sua pura livre graça e amor,11 não devido a qualquer outra coisa na criatura como condições ou causas que o movessem a isso.12
Efésios 1:4,9,11; Romanos 8:30; 2Timóteo 1:9; 1Tessalonicenses 5:9
Romanos 9:13,16; Efésios 2:5,12
6. Assim como Deus destinou os eleitos para a glória assim também, pelo propósito eterno e mui livre de sua vontade, preordenou todos os meios para isso.13 Portanto, aqueles que são eleitos, estando caídos em Adão, são remidos por Cristo14 e são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo devido; são justificados, adotados, santificados15 e preservados pelo seu poder por meio da fé para a salvação.16 Nem são quaisquer outros redimidos por Cristo, ou eficazmente chamados, justificados, adotados, santificados e salvos, senão somente os eleitos.17
1Pedro 1:2; 2Tessalonicenses 2:13
1Tessalonicenses 5:9-10
Romanos 8:30; 2Tessalonicenses 2:13
1Pedro 1:5
João 10:26, 17:9, 6:64
7. A doutrina desse elevado mistério da predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, para que os homens, atendendo à vontade de Deus revelada em sua Palavra, e prestando obediência a ela, possam, a partir da certeza do seu chamado eficaz, certificar-se de sua eleição eterna.18 Portanto, essa doutrina deve motivar louvor,19 reverência e admiração a Deus; e humildade,20 diligência e consolação abundante para todos os que sinceramente obedecem ao evangelho.21
1Tessalonicenses 1:4-5; 2Pedro 1:10
Efésios 1:6; Romanos 11:33
Romanos 11:5,6,20
Lucas 10:20
Capítulo IV
Sobre a Criação
1. No princípio aprouve a Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo,1 para a manifestação da glória do seu eterno poder,2 sabedoria e bondade, criar ou fazer o mundo e todas as coisas nele, sejam visíveis ou invisíveis, no espaço de seis dias e tudo muito bom.3
1João 1:2-3; Hebreus 1:2; Jó 26:13
Romanos 1:20
Colossenses 1:16; Gênesis 1:31
2. Após Deus haver feito todas as outras criaturas, ele criou o homem, macho e fêmea,4 com almas racionais e imortais,5 e os tornou aptos à vida para Deus, para o que eles foram criados, tendo sido feitos segundo a imagem de Deus, em conhecimento, retidão e verdadeira santidade;6 tendo a lei de Deus escrita em seus corações,7 e poder para cumpri-la; e ainda assim, estavam sob a possibilidade de transgressão, sendo deixados à liberdade de sua própria vontade, que era sujeita à mudança.8
Gênesis 1:27
Gênesis 2:7
Eclesiastes 7:29; Gênesis 1:26
Romanos 2:14-15
Gênesis 3:6
3. Além dessa lei escrita em seus corações, eles receberam a ordem de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal;9 de forma que enquanto obedeceram a este preceito eles foram felizes em sua comunhão com Deus e tiveram domínio sobre as criaturas.10
Gênesis 2:17
Gênesis 1:26,28
Capítulo V
Sobre a Divina Providência
1. Deus, o bom Criador de todas as coisas, em seu infinito poder e sabedoria, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as criaturas e coisas1, desde a maior até a menor,2 por sua mui sábia e santa providência, para o fim para o qual foram criadas, segundo a sua infalível presciência, e o livre e imutável conselho de sua própria vontade, para o louvor da glória de sua sabedoria, poder, justiça, infinita bondade e misericórdia.3
Hebreus 1:3; Jó 38:11; Isaías 46:10-11; Salmos 135:6
Mateus 10:29-31
Efésios 1:11
2. Embora em relação à presciência e ao decreto de Deus, a causa primeira, todas as coisas acontecem imutável e infalivelmente,4 de forma que nada acontece por acaso, ou sem a sua providência;5 contudo, pela mesma providência, ele ordena que elas aconteçam de acordo com a natureza das causas secundárias, seja necessária, livre ou contingentemente.6
Atos 2:23
Provérbios 16:33
Gênesis 8:22
3. Deus, em sua providência ordinária, faz o uso de meios,7 ainda assim, é livre para operar sem,8 acima9 e contra eles,10 como lhe aprouver.
Atos 27:31,44; Isaías 55:10-11
Oséias 1:7
Romanos 4:19-21
Daniel 3:27
4. A onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de Deus, tanto manifestam-se em sua providência, que seu conselho determinado se estende mesmo até a primeira queda, e a todas as outras ações pecaminosas tanto de anjos quanto de homens;11 e não é por meio de mera permissão que ele mui sábia e poderosamente delimita, e de forma variada ordena e governa,12 em uma multiforme dispensação para os seus próprios santos fins;13 ainda assim, de forma que a pecaminosidade desses atos procede apenas da criatura, e não de Deus, que sendo santíssimo e justíssimo, não é nem pode ser o autor ou aprovador do pecado.14
Romanos 11:32-34; 2Samuel 24:1; 1Crônicas 21:1
2Reis 19:28; Salmos 76:10
Gênesis 1:20; Isaías 10:6,7,12
Salmos 50:21; 1João 2:16
5. O Deus mui sábio, justo e gracioso, frequentemente deixa, por algum tempo, seus próprios filhos em diversas tentações e na corrupção dos seus próprios corações, para castigá-los pelos seus pecados anteriores ou fazer-lhes conhecer o poder oculto da corrupção e engano de seus corações, para que eles sejam humilhados; e para elevá-los a uma dependência mais íntima e constante de seu próprio auxílio, e para torná-los mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões de pecado, e para outros santos e justos fins.15 De forma que seja o que for que ocorra com todos os seus eleitos é por sua designação, para a sua glória e para o bem deles.16
6. Quanto àqueles homens perversos e ímpios, a quem Deus, como o justo juiz, por pecados anteriores, cega e endurece;17 deles, ele não apenas retém a sua graça, pela qual eles poderiam ser iluminados em seus entendimentos e forjados em seus corações;18 mas às vezes também retira os dons que eles tinham;19 e os expõe a tais coisas que a corrupção deles torna em ocasiões de pecado;20 e, além disso, entrega-lhes às suas próprias concupiscências, às tentações do mundo e ao poder de Satanás;21 de maneira que eles se endurecem sob aqueles meios que Deus usa para o quebrantamento de outros.22
Romanos 1:24-26,28, 11:7-8
Deuteronômio 29:4
Mateus 13:12
Deuteronômio 2:30; 2Reis 8:12-13
Salmos 81:11-12; 2Tessalonicenses 2:10-12
Êxodo 8:15, 32; Isaías 6:9-10; 1Pedro 2:7-8
7. Assim como a providência de Deus, em geral, atinge todas as criaturas, assim também, de uma forma mui especial, ele cuida de sua Igreja, e dispõe de todas as coisas para o bem dela.23
1Timóteo 4:10; Amós 9:8-9; Isaías 43:3-5
Capítulo VI
Sobre a Queda do Homem, o Pecado e o Castigo Dele
1. Deus criou o homem justo e perfeito, e lhe deu uma lei justa, que seria para a vida se ele a tivesse guardado, ou para morte, se a desobedecesse.1 Porém o homem não manteve por muito tempo a sua honra. Satanás valeu-se da astúcia da serpente para seduzir Eva, em seguida, esta seduziu a Adão, que, sem qualquer compulsão, deliberadamente transgrediram a lei de sua criação, e a ordem dada a eles, de não comer o fruto proibido.2 Deus se agradou de permitir esse pecado deles, de
Eclesiastes 7:29; Gênesis 1:26
Gênesis 2:16-17; 3:6-8; 2Coríntios 11:3
2. Nossos primeiros pais, por esse pecado, decaíram de sua retidão original e da comunhão com Deus, e nos neles, e por isso a morte veio sobre todos:3 todos nos tornamos mortos em pecado4 e totalmente corrompidos em todas as faculdades e partes da alma e do corpo.5
Romanos 3:23
Romanos 5:12, etc.
Tito 1:15; Gênesis 6:5; Jeremias 17:9; Romanos 3:10-19
3. Sendo eles os ancestrais e, pelo desígnio de Deus, os representantes de toda humanidade, a culpa do pecado foi imputada à toda a sua descendência, e a corrupção natural passou a todos os seus descendentes que deles procedem por geração ordinária.6 Eles são agora concebidos em pecado,7 e por natureza filhos da ira,8 escravos do pecado, sujeitos à morte9 e a todas as outras misérias espirituais, temporais e eternas, a menos que o Senhor Jesus os liberte.10
Romanos 5:12-19; 1Coríntios 15:21,22,45,49
Salmos 51:5; Jó 14:4
Efésios 2:3
Romanos 6:20, 5:12
Hebreus 2:14-15; 1Tessalonicenses 1:10
4. Dessa corrupção original pela qual ficamos totalmente indispostos, incapacitados e adversos a todo o bem, e inteiramente inclinados a todo o mal,11 é que procedem todas as transgressões atuais.12
Romanos 7:18,23; Eclesiastes 7:20; 1João 1:8
Romanos 7:24-25; Gálatas 5:17
5. A corrupção da natureza persiste durante esta vida naqueles que são regenerados;13 e, embora ela seja perdoada e mortificada através de Cristo, não obstante, tanto ela mesma como seus primeiros impulsos são verdadeira e propriamente pecado.14
Romanos 7:18,23; Eclesiastes 7:20; 1João 1:8
Romanos 7:24-25; Gálatas 5:17
Capítulo VII
Sobre a Aliança de Deus
1. A distância entre Deus e a criatura é tão grande, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu criador, nunca poderiam ter alcançado a recompensa da vida, senão por alguma condescendência voluntária da parte de Deus, que ele se agradou em expressar por meio de aliança.1
Lucas 17:10; Jó 35:7-8
2. Ademais, tendo o homem trazido sobre si mesmo a maldição da lei, por sua queda, aprovou ao Senhor fazer um Pacto de Graça,2 no qual ele oferece livremente aos pecadores a vida e a salvação por meio de Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele, para que eles sejam salvos;3 e prometendo dar a todos os que são ordenados para a vida eterna, o seu Espírito Santo, para torná-los dispostos e capazes de crer.4
Gênesis 2:17; Gálatas 3:10; Romanos 3:20-21
Romanos 8:3; Marcos 16:15-16; João 3:16
Ezequiel 36:26-27; João 6:44-45; Salmos 110:3
3. Esse Pacto é revelado no evangelho; primeiramente a Adão na promessa de salvação pela descendência da mulher5 e depois por etapas sucessivas até que a sua plena revelação foi completada no Novo Testamento;6 e é fundamentado naquela transação pactual eterna que houve entre o Pai e o Filho para a redenção dos eleitos;7 e somente pela graça desse Pacto que todos da posteridade do caído Adão, que já foram salvos, obtiveram a vida e a bem-aventurada imortalidade. O homem é agora totalmente incapaz de ser aceito por Deus naqueles termos em que Adão permanecia em seu estado de inocência.8
Gênesis 3:15
Hebreus 1:1
2Timóteo 1:9; Tito 1:2
Hebreus 11:6,13; Romanos 4:1-2, etc.; Atos 4:12; João 8:56
Capítulo VIII
Sobre Cristo, o Mediador
1. Aprouve a Deus, em seu eterno propósito, e de acordo com o Pacto estabelecido entre ambos, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho unigênito, para ser o mediador entre Deus e os homens,1 o profeta,2 sacerdote3 e rei;4 a cabeça e salvador da Igreja,5 o herdeiro de todas as coisas,6 e juiz do mundo;7 a quem, desde toda a eternidade, deu um povo para ser sua posteridade e para ser por ele, no tempo, remido, chamado, justificado, santificado e glorificado.8
Isaías 42:1; 1Pedro 1:19-20
Atos 3:22
Hebreus 5:5-6
Salmos 2:6; Lucas 1:33
Efésios 1:22-23
Hebreus 1:2
Atos 17:31
Isaías 53:10; João 17:6; Romanos 8:30
2. O Filho de Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, o resplendor da glória do Pai, da mesma substância e igual a ele; que criou o mundo, quem sustenta e governa todas as coisas que ele fez, quando chegou a plenitude dos tempos, tomou sobre si a natureza humana, com todas as propriedades essenciais e fraquezas comuns,9 embora sem pecado;10 foi concebido pelo Espírito Santo, no ventre da virgem Maria, o Espírito Santo desceu sobre ela, e o poder do Altíssimo a envolveu; e assim foi formado de uma mulher, da tribo de Judá, da descendência de Abraão e Davi, segundo as Escrituras;11 para que duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas fossem inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, composição ou confusão. Essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, um só Cristo, o único mediador entre Deus e o homem.12
João 1:14; Gálatas 4:4
Romanos 8:3; Hebreus 2:14,16,17; 4:15
Mateus 1:22-23
Lucas 1:27,31,35; Romanos 9:5; 1Timóteo 2:5
3. O Senhor Jesus em sua natureza humana assim unida à divina na pessoa do Filho, foi santificado e ungido com o Espírito Santo sobremaneira;13 tendo em si todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento,14 em quem aprouve a Deus que toda a plenitude habitasse,15 a fim de que sendo santo, inocente, imaculado,16 e cheio de graça e de verdade,17 ele pudesse estar plenamente qualificado para exercer o ofício de um mediador e fiador.18 Esse ofício ele não tomou para si por conta própria, mas foi designado por seu Pai;19 que colocou todo o poder e julgamento em sua mão, e lhe ordenou que os exercesse.20
Salmos 45:7; Atos 10:38; João 3:34
Colossenses 2:3
Colossenses 1:19
Hebreus 7:26
João 1:14
Hebreus 7:22
Hebreus 5:5
João 5:22,27; Mateus 28:18; Atos 2:36
4. Esse ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente,21 para que pudesse exercê-lo, foi feito sujeito à lei,22 que ele cumpriu perfeitamente e suportou o castigo que nos era devido, que nós deveríamos ter suportado e sofrido.23 E foi feito pecado e maldição por nossa causa,24 suportando as mais cruéis aflições em sua alma e os sofrimentos mais dolorosos em seu corpo;25 foi crucificado e morreu; e ficou em estado de morte, mas não viu a corrupção.26 No terceiro dia ele ressuscitou dentre os mortos,27 com o mesmo corpo no qual sofreu;28 com o qual também ele subiu ao céu,29 e lá está assentado à destra do Pai, fazendo intercessão,30 e voltará para julgar homens e anjos, no fim do mundo.31
Salmos 40:7-8; Hebreus 10:5-10; João 10:18
Gálatas 4:4; Mateus 3:15
Gálatas 3:13; Isaías 53:6; 1Pedro 3:18
2Coríntios 5:21
Mateus 26:37-38; Lucas 22:44; Mateus 27:46
Atos 13:37
1Coríntios 15:3-4
João 20:25,27
Marcos 16:19; Atos 1:9-11
Romanos 8:34; Hebreus 9:24
Atos 10:42; Romanos 14:9-10; Atos 1:11; 2Pedro 2:4
5. O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e sacrifício de si mesmo, que ele, pelo Espírito eterno, uma vez ofereceu a Deus, satisfez plenamente a justiça de Deus;32 obteve a reconciliação e adquiriu uma herança eterna no reino dos céus, para todos quantos foram dados a ele pelo Pai.33
Hebreus 9:14; 10:14; Romanos 3:25-26
João 17:2; Hebreus 9:15
6. Embora o preço da redenção não tenha sido realmente pago por Cristo senão depois da sua encarnação, contudo a virtude, a eficácia e os benefícios dela foram comunicados aos eleitos, em todas as épocas sucessivamente desde o princípio do mundo nas e através das promessas, tipos e sacrifícios em que Cristo foi revelado, e que o apontavam como a descendência da mulher que esmagaria a cabeça da serpente,34 e como o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo,35 sendo o mesmo ontem, hoje e para sempre.36
1Coríntios 10:4; Hebreus 4:2; 1Pedro 1:10-11
Apocalipse 13:8
Hebreus 13:8
7. Cristo, na obra da mediação, age de acordo com ambas as naturezas, cada uma delas atuando como lhe é próprio. Mesmo assim, em razão da unidade da pessoa, aquilo que é próprio de uma natureza, às vezes, na Escritura, é atribuído à pessoa de Cristo denominada pela outra natureza.37
João 3:13; Atos 20:28
8. Cristo certamente aplica e comunica eficazmente a redenção eterna, para todos quantos ele a obteve, fazendo intercessão por eles;38 unindo-os a si mesmo por seu Espírito; revelando-lhes, na e pela sua Palavra, o mistério da salvação, persuadindo-os a crer e a obedecer,39 governando seus corações por sua Palavra e Espírito,40 e vencendo todos os inimigos deles, por sua onipotência e sabedoria,41 da maneira e pelos meios mais consoantes com a sua admirável e inescrutável dispensação; e tudo isso por livre e absoluta graça, sem qualquer condição de neles ter sido vista de antemão uma busca por isso.42
João 6:37, 10:15-16,17-19; Romanos 5:10
João 17:6; Efésios 1:9; 1João 5:20
Romanos 8:9, 14
Salmos 110:1; 1Coríntios 15:25-26
João 3:8; Efésios 1:8
9. Esse ofício de mediador entre Deus e os homens cabe exclusivamente a Cristo, que é o profeta, sacerdote e rei da igreja de Deus; e isso não pode ser de modo, ou em qualquer parte, transferido de Cristo para qualquer outro.43
1Timóteo 2:5
10. Esse número e ordem de ofícios são necessários. Precisamos de seu ofício profético,44 por causa de nossa ignorância. Por causa de nossa alienação de Deus e da imperfeição de nossos melhores serviços, nós necessitamos de seu ofício sacerdotal para nos reconciliar e apresentar aceitáveis a Deus.45 E no que diz respeito à nossa aversão e incapacidade absoluta de converter-nos a Deus, e para o nosso resgate e segurança contra nossos adversários espirituais, precisamos de seu ofício real para nos convencer, subjugar, atrair, sustentar, libertar e preservar para o seu reino celestial.46
João 1:18
Colossenses 1:21; Gálatas 5:17
João 16:8; Salmos 110:3; Lucas 1:74-75
Capítulo IX
Sobre o Livre-Arbítrio
1. Deus dotou a vontade do homem com tal liberdade natural e poder de ação em escolha, que ela não é nem forçada nem determinada para o bem ou o mal por qualquer necessidade da natureza.1
Mateus 17:12; Tiago 1:14; Deuteronômio 30:19
2. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus;2 mas ainda assim, era instável, de forma que ele podia cair desse estado.3
Eclesiastes 7:29
Gênesis 3:6
3. O homem, por meio de sua queda em um estado de pecado, perdeu completamente todo o poder da vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação;4 então, como um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto em pecado,5 ele não é capaz, por sua própria força, de converter-se ou preparar-se para isso.6
Romanos 5:6, 8:7
Efésios 2:1,5
Tito 3:3-5; João 6:44
4. Quando Deus converte um pecador e o transporta para o estado de graça, ele o liberta de sua escravidão natural ao pecado7 e, por sua graça somente, o habilita a livremente querer e fazer aquilo que é espiritualmente bom;8 ainda assim, em razão de suas corrupções remanescentes, ele não o faz perfeitamente, nem apenas deseja o que é bom, mas também o que é mau.9
Colossenses 1:13; João 8:36
Filipenses 2:13
Romanos 7:15,18,19,21,23
5. A vontade do homem é feita imutável e perfeitamente livre somente para o bem apenas no estado de glória.10
Efésios 4:13
Capítulo X
Sobre o Chamado Eficaz
1. Aqueles a quem Deus predestinou para a vida, a ele apraz, em seu tempo determinado e aceitável, chamar eficazmente,1
por sua Palavra e Espírito, do estado natural de pecado e morte no qual eles estão por natureza, para a graça e a salvação por Jesus Cristo.2 Isso ele faz, iluminando suas mentes de maneira espiritual e salvífica para que entendam as coisas de Deus,3 tirando-lhes o coração de pedra e dando-lhes um coração de carne;4 renovando as suas vontades, e por sua onipotência, predispondo-os para o bem e atraindo-os irresistivelmente para Jesus Cristo;5 no entanto, eles vêm a Cristo muito livremente, sendo para isso feitos dispostos pela sua graça.6
Romanos 8:30, 11:7; Efésios 1:10-11; 2Tessalonicenses 2:13-14
Efésios 2:1-6
Atos 26:18; Efésios 1:17-18
Ezequiel 36:26
Deuteronômio 30:6; Ezequiel 36:27; Efésios 1:19
Salmos 110:3; Cantares 1:4
2. Esse chamado eficaz é somente por livre e especial graça de Deus e não provém de qualquer coisa prevista no homem, e nem de algum poder ou agência da criatura,7 sendo ele totalmente passivo nisso, estando morto em pecados e transgressões, até que, sendo vivificado e renovado pelo Espírito Santo,8 ele é feito capaz de corresponder a esse chamado, e receber a graça oferecida e comunicada nele. Para isso é necessário um poder que de modo nenhum é menor do que aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos.9
2Timóteo 1:9; Efésios 2:8
1Coríntios 2:14; Efésios 2:5; João 5:25
Efésios 1:19-20
3. As crianças eleitas que morrem na infância são regeneradas e salvas por Cristo, através do Espírito,10 que opera quando, onde e como lhe agrada.11 Do mesmo modo são salvas todas as pessoas eleitas incapazes de serem chamadas exteriormente, pelo ministério da Palavra.
João 3:3,5,6
João 3:8
4. Outros não eleitos, embora possam ser chamados pelo ministério da Palavra, e tenham algumas das operações comuns do Espírito,12 contudo, não sendo eficazmente atraídos pelo Pai, eles nem querem e nem podem verdadeiramente vir a Cristo e, portanto, não podem ser salvos;13 muito menos poderão ser salvos os que não seguem a religião cristã, por mais diligentes que sejam em conformar suas vidas à luz da natureza e regras da religião que professam.14
Mateus 22:14, 13:20-21; Hebreus 6:4-5
João 6:44,45,65; 1João 2:24-25
Atos 4:12; João 4:22, 17:3
Capítulo XI
Sobre a Justificação
1. Aqueles a quem Deus chama eficazmente, ele também livremente justifica,1 não por meio da infusão de justiça neles, mas por perdoar os seus pecados e por considerar e aceitar as suas pessoas como justas;2 não por qualquer coisa neles operada ou por eles feita, mas por causa de Cristo somente;3 não por lhes imputar como sua justiça a sua própria fé, o ato de crer ou qualquer outra obediência evangélica, mas pela imputação da obediência ativa de Cristo a toda a lei e da obediência passiva em sua morte por sua completa e única justiça pela fé;4 fé esta que eles não têm de si mesmos, pois ela é um dom de Deus.5
Romanos 3:24, 8:30
Romanos 4:5-8; Efésios 1:7
1Coríntios 1:30-31; Romanos 5:17-19
Filipenses 3:8-9; Efésios 2:8-10
João 1:12; Romanos 5:17
2. A fé, assim recebendo a Cristo e descansando nele e em sua justiça, é o único instrumento de justificação;6 ainda assim, ela não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre encontra-se acompanhada de todas as outras graças salvíficas, e não é uma fé morta, mas uma fé que opera pelo amor.7
Romanos 3:28
Gálatas 5:6; Tiago 2:17,22,26
3. Cristo, por sua obediência e morte, pagou plenamente a dívida de todos os que são assim justificados, e pelo sacrifício de si mesmo, no sangue de sua cruz, sujeitando-se no lugar deles à penalidade e ades devida, fez uma satisfação apropriada, real e plena à justiça de Deus em nome deles.8 No entanto, isso acontece na medida em que ele foi entregue pelo Pai para eles, e sua obediência e satisfação são aceitas em seu lugar, e ambos livremente, não por qualquer coisa neles.9 A justificação deles acontece somente por livre graça, de forma que tanto a exata justiça quanto a rica graça de Deus são glorificadas na justificação dos pecadores.10
Hebreus 10:14; 1Pedro 1:18-19; Isaías 53:5-6
Romanos 8:32; 2Coríntios 5:21
Romanos 3:26; Efésios 1:6-7, 2:7
4. Deus, desde toda a eternidade, decretou justificar todos os eleitos;11 e Cristo, na plenitude do tempo, morreu pelos pecados deles e ressuscitou para a sua justificação;12 no entanto, eles não são justificados pessoalmente, até que o Espírito Santo no tempo efetivamente aplica-lhes a Cristo.13
Gálatas 3:8; 1Pedro 1:2; 1Timóteo 2:6
Romanos 4:25
Colossenses 1:21-22; Tito 3:4-7
5. Deus continua a perdoar os pecados daqueles que são justificados;14 e embora eles nunca possam cair do estado de justificação,15 contudo podem, por seus pecados, cair no desagrado paternal de Deus,16 e nessa condição eles usualmente não têm a luz de sua face restaurada, até que se humilhem, confessem seus pecados, peçam perdão e renovem sua fé e arrependimento.17
Mateus 6:12; 1João 1:7,9
João 10:28
Salmos 89:31-33
Salmos 32:5; Salmos 51; Mateus 26:75
6. A justificação dos crentes sob o Antigo Testamento era, em todos esses aspectos, uma e a mesma com a justificação dos crentes sob o Novo Testamento.18
Gálatas 3:9; Romanos 4:22-24
Capítulo XII
Sobre a Adoção
As Bênçãos da Adoção
1. Para todos os que são justificados Deus concedeu, em e por causa de seu único Filho Jesus Cristo, tornarem-se participantes da graça da adoção;1 pela qual eles são recebidos como filhos,2 bem como desfrutam das liberdades e privilégios dos tais;3 passam a serem chamados pelo nome de Deus, recebem o Espírito de adoção,4 têm acesso ao trono da graça com confiança, são habilitados a clamar: “Aba, Pai”,5 são tratados com compaixão,6 protegidos,7 providos8 e corrigidos por ele, como por um Pai;9 e jamais são rejeitados;10 mas selados para o dia da redenção11 e herdam as promessas, como herdeiros da salvação eterna.12
A Santificação Definida
1. Aqueles que são unidos a Cristo, eficazmente chamados e regenerados, tendo um novo coração e um novo Espírito criado neles, através da virtude da morte e ressurreição de Cristo; são também santificados, real e pessoalmente,1 através da mesma virtude, pela sua Palavra e Espírito que habita neles;2 o domínio de todo o corpo do pecado é destruído3 e as várias concupiscências dele são cada vez mais enfraquecidas e mortificadas;4 e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as graças salvíficas,5 para a prática de toda a verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor.6
Atos 20:32; Romanos 6:5-6
João 17:17; Efésios 3:16-19; 1Tessalonicenses 5:21-23
Romanos 6:14
Gálatas 5:24
Colossenses 1:11
2Coríntios 7:1; Hebreus 12:14
A Imperfeição da Nossa Santificação Atual
2. Essa santificação é em todo o homem,7 embora seja imperfeita nesta vida; ainda permanecem alguns remanescentes de corrupção em cada parte,8 de onde surge uma guerra contínua e irreconciliável: a carne cobiçando contra o Espírito, e o Espírito contra a carne.9
1Tessalonicenses 5:23
Romanos 7:18,23
Gálatas 5:17; 1Pedro 2:11
A Guerra Contínua e o Avanço
3. Nessa guerra, embora a corrupção remanescente possa prevalecer por um tempo;10 contudo, através do suprimento contínuo de força do Espírito santificador de Cristo, a parte regenerada vence;11 e assim os santos crescem na graça, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus, esforçando-se para viver uma vida celestial, em obediência evangélica a todos os mandamentos que Cristo, como Cabeça e Rei, em sua Palavra prescreveu para eles.12
Romanos 7:23
Romanos 6:14
Efésios 4:15-16; 2Coríntios 3:18, 7:1
Capítulo XIV
Sobre a Fé Salvifica
A Origem e o Crescimento da Fé 1. A graça da fé, pela qual os eleitos são habilitados a crer para a salvação de suas almas, é obra do Espírito de Cristo nos corações deles;1 e é ordinariamente operada pelo ministério da Palavra;2 e por ele também, pela administração do batismo e da Ceia do Senhor, pela oração e por outros meios prescritos por Deus, ela é aumentada e fortalecida.3
2Coríntios 4:13; Efésios 2:8
Romanos 10:14,17
Lucas 17:5; 1Pedro 2:2; Atos 20:32
O Fundamento e a Definição da Fé 2. Por esta fé, um cristão crê ser verdadeiro tudo o que é revelado na Palavra, pela autoridade do próprio Deus;4 e também apreende uma excelência nela acima de todos os outros escritos e todas as coisas no mundo,5 à medida que ele demonstra a glória de Deus em seus atributos, a excelência de Cristo em sua natureza e ofícios, e o poder e plenitude do Espírito Santo em suas obras e operações; e assim o cristão é capacitado a confiar sua alma na verdade assim crida;6 e também age em conformidade com aquilo que cada passagem contém em particular; prestando obediência aos mandamentos,7 tremendo diante das ameaças8 e abraçando as promessas de Deus para esta vida e para a que está por vir;9 entretanto os principais atos da fé salvifica têm relação imediata com Cristo: aceitar, receber e confiar nele somente, para a justificação, a santificação e a vida eterna, pela virtude do Pacto da Graça.10
Atos 24:14
Salmos 19:7-10, 119:72
2Timóteo 1:12
João 15:14
Isaías 66:2
Hebreus 11:13
João 1:12; Atos 16:31; Gálatas 2:20; Atos 15:11
A Natureza da Fé Verdadeira 3. Essa fé, embora seja diferente em graus e possa ser fraca ou forte;11 ainda assim é, mesmo em seu menor grau, diferente em tipo ou natureza (assim como todas as outras graças salvadoras) da fé e da graça comum dos crentes temporários;12 e, portanto, embora muitas vezes possa ser atacada e enfraquecida; entretanto ela alcança a vitória;13 crescendo em muitos até alcançar a plena segurança através de Cristo,14 que é tanto o autor quanto o consumador de nossa fé.15
Hebreus 5:13-14; Mateus 6:30; Romanos 4:19-20
2Pedro 1:1
Efésios 6:16; 1João 5:4-5
Hebreus 6:11-12; Colossenses 2:2
Hebreus 12:2
Capítulo XV
Sobre o Arrependimento para a Vida e Salvação
O Lugar do Arrependimento 1. Aqueles dos eleitos que são convertidos em anos mais maduros, tendo vivido algum tempo no estado natural e nele servido a diversas concupiscências e prazeres, Deus em seu chamado eficaz concede-lhes o arrependimento para a vida.1
Tito 3:2-5
A Necessidade e a Provisão do Arrependimento 2. Considerando que não há ninguém que faça o bem e não peque;2 e que mesmo os melhores entre os homens podem, devido ao poder e ao engano da corrupção que habita neles, e à prevalência da tentação, cair em grandes pecados e provocações, Deus, no Pacto da Graça, providenciou misericordiosamente que os crentes que assim pecaram e caíram, sejam renovados através do arrependimento para a salvação.3
Eclesiastes 7:20
Lucas 22:31-32
Os Componentes do Arrependimento 3. Esse arrependimento salvífico é uma graça evangélica,4 pela qual uma pessoa, sendo pelo Espírito Santo feita sensível aos múltiplos males de seu pecado, humilha-se por ele, com tristeza segundo Deus, odeia seu pecado e aborrece a si mesma;5 orando por perdão e por força da graça, com um propósito e esforço, através dos suprimentos do Espírito, para andar diante de Deus agrada-lhe em todas as coisas.6
Zacarias 12:10; Atos 11:18
Ezequiel 36:31; 2Coríntios 7:11
Salmos 119:6, 128
A Duração e o Dever do Arrependimento 4. Assim como o arrependimento deve continuar por todo o curso de nossas vidas, devido ao corpo de morte e às moções dele; assim também é dever de cada pessoa se arrepender de seus pecados particulares conhecidos, de maneira particular.7
Lucas 19:8; 1Timóteo 1:13,15
O Resultado do Arrependimento 5. Tal é a provisão que Deus fez através de Cristo no Pacto da Graça, para a preservação dos crentes para a salvação, que, embora não haja pecado tão pequeno que não mereça condenação;8 ainda assim, não há pecado tão grande que traga condenação àqueles que se arrependem;9 o que torna a pregação constante do arrependimento necessária.
Romanos 6:23
Isaías 1:16-18, 55:7
Capítulo XVI
Sobre as Boas Obras
Obras Boas Identificadas 1. As boas obras são apenas aquelas que Deus ordenou em sua santa Palavra;1 e não aquelas que, sem a autoridade dela, são inventadas por homens motivados por um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de boas intenções.2
Miquéias 6:8; Hebreus 13:21
Mateus 15:9; Isaías 29:13
A Natureza das Boas Obras 2. Essas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são os frutos e as evidências de uma fé verdadeira e viva;3 e por elas os crentes manifestam sua gratidão,4 fortalecem sua segurança,5 edificam seus irmãos, adornam a profissão do Evangelho,6 fazem calar a boca dos adversários e glorificam a Deus,7 de cuja feitura são, criados em Cristo Jesus para isso mesmo,8 para que, tendo o seu fruto para santificação, eles possam ter, por fim, a vida eterna.9
Tiago 2:18,22
Salmos 116:12-13
1João 2:3-5; 2Pedro 1:5-11
Mateus 5:16
1Timóteo 6:1; 1Pedro 2:15; Filipenses 1:11
Efésios 2:10
Romanos 6:22
A Fonte e a Prática das Boas Obras 3. A capacidade de fazer boas obras não é de modo algum deles próprios, mas provém inteiramente do Espírito de Cristo;10 e para que possam ser habilitados a isso, além das graças que já receberam, é necessária uma influência atual do mesmo Espírito Santo, para operar neles o querer e o fazer, segundo sua boa vontade;11 ainda assim, eles não devem tornar-se negligentes, como se não estivessem obrigados a realizar qualquer dever, a menos que recebam alguma moção do Espírito para isso; antes eles devem ser diligentes em desenvolver a graça de Deus que está neles.12
João 15:4-5
2Coríntios 3:5; Filipenses 2:13
Filipenses 2:12; Hebreus 6:11-12; Isaías 64:7
As Limitações das Boas Obras 4. Mesmo aqueles que em sua obediência atingem o maior grau possível nesta vida, estão muito longe de serem capazes de fazerem obras de superrogação ou de fazerem mais do que Deus exige, pois ainda ficam aquém de muito que, por dever, eles são obrigados a fazer.13
Jó 9:2-3; Gálatas 5:17; Lucas 17:10
A Fraqueza das Boas Obras 5. Não podemos, mesmo pelas nossas melhores obras, merecer o perdão do pecado ou a vida eterna a partir das mãos de Deus, devido à grande desproporção que há entre elas e a glória por vir; e à distância infinita que há entre nós e Deus, a quem, por elas, não podemos nem beneficiar, nem satisfazer a dívida de nossos pecados anteriores;14 porém quando tivermos feito tudo o que pudermos temos feito apenas o nosso dever e somos servos inúteis; e porque nossas obras são boas à medida que elas procedem de seu Espírito,15 porém, à medida que são realizadas por nós, elas são contaminadas e misturadas com tanta fraqueza e imperfeição que não podem suportar a severidade do julgamento de Deus.16
Romanos 3:20; Efésios 2:8-9; Romanos 4:6
Gálatas 5:22-23
Isaías 64:6; Salmos 143:2
A Aceitabilidade das Obras Boas Cristãs 6. Entretanto, visto que as pessoas dos crentes são aceitas por meio de Cristo, as boas obras delas também são aceitas nele;17 não como se nesta vida fossem totalmente inculpáveis e irrepreensíveis aos olhos de Deus; mas o que acontece é que ele, olhando para elas em seu Filho, agrada-se em aceitar e recompensar o que é sincero, embora esteja acompanhado de muitas fraquezas e imperfeições.18
Efésios 1:6; 1Pedro 2:5
Mateus 25:21,23; Hebreus 6:10
A Rejeição das Obras Não Cristãs 7. As obras feitas por pessoas não regeneradas, embora em termos materiais possam ser coisas que Deus ordena, e proveitosas tanto para elas mesmas quanto para outros;19 contudo porque elas não procedem de um coração purificado pela fé,20 nem são feitas de maneira correta segundo a Palavra,21 nem com um fim correto: a glória de Deus,22 elas são, portanto, pecaminosas e não podem agradar a Deus; nem tornam uma pessoa apta para receber a graça de Deus;23 não obstante negligenciá-las ainda mais pecaminoso e desagradável a Deus.24